Uma das exposições mais legais que eu visitei durante a minha estadia em Belo Horizonte no mês passado foi a "Mulheres reais", que rolou no Palácio das Artes, um dos principais museus da capital mineira. A exposição mostra como a moda brasileira se desenvolveu na primeira metade do século XIX com as mudanças socioculturais resultantes da transferência da corte portuguesa para a América, em 1808. O foco da eposição é a influência das mulheres da família real portuguesa - D. Maria I, Carlota Joaquina e D. Leopoldina, que então eram ícones fashion, servindo como modelo de comportamento e vestuário para as brasileiras.
A exposição trouxe várias peças originais, como vestidos, camisolas, sapatos e jóias, que nos permitem ver como era parte da vida no Brasil colônia, reconstituindo o cotidiano da população através das roupas que eles usavem no seu dia a dia, em festas oficiais e cerimônias:
Outro ponto alto da exposição foi a apresentação das roupas de Carlota Joaquina, esposa de D. João VI. A mostra trouxe verdadeiras preciosidades, como o vestido feito pela Rose Bertin (modista da também rainha Maria Antonieta) para o enxoval da princesa espanhola na época do seu casamento com o então herdeiro do trono português, no fim do século XVIII. O vestido é feito de brocado e seda cor de rosa, e tem vários bordados com motivos florais:
Releituras contemporâneas
Uma grande sacada da exposição foi convidar artistas contemporâneaos - entre etilistas e artistas plásticos - para compor roupas inspiradas nas 3 mulheres que serviram de árbitras de estilo, levando em consideração o estilo pessoal e a personalidade de cada uma. Assim, temos um vestido preto com aplicações de vermelho, com influências góticas para representar a loucura de D. Maria I, rainha de Portugal. O vestido tinha ainda pedaços de louça quebrada na cauda e aplicações de véu preto no decote, e foi na minha opinião, um dos melhores que eu já vi.
Para Carlota Joaquina, foi criado um vestido de seda vermelha, que representasse ao mesmo tempo o esplendor da Corte espanhola - como bem sabemos, Carlota desprezava Portugal e por tabela, o Brasil também - e o poder da monarquia absolutista, que já naquela época dava os seus últimos suspiros no continente europeu.
Para a Leopoldina, primeira mulher de D. Pedro I e 1ª imperatriz do Brasil, o vestido mostra uma mulher calma mas de presonalidade forte, ao mesmo tempo tranquila e perdidamente apaixonada pelo marido. Feito com papel e gaze branca, tendo em toda a sua extensão trechos das cartas que ela escreveu para D. Pedro I.
A exposição também abriu espaço para mostrar um pouco do trabalho de estilistas mineiros que hoje brilham no Brasil todo. Graça Otoni, Ronaldo Fraga, Bárbara Belo e Sônia Pinto (uma das favoritas de Michelle Obama) criaram looks inspirados na história do Brasil, convidando o expectador para uma viagem fashion ao longo da nossa história:
