(texto produzido para o jornal experimental Alcance desenvolvido por nossa turma no semestre passado)
Todos querem pegar o bonde chamado desejo
Domingo à noite , sem muita coisa para fazer, estávamos eu e um amigo assistindo tv, ainda se recuperando da noitada de sábado . Passava na MTV o Ponto Pê, programa no qual a apresentadora Penélope tira dúvidas sobre sexo dos telespectdores, através do telefone . Sempre nos divertíamos muito, era engraçado saber das histórias, que como dizia minha avó , capazes "de fazer corar um frade de pedra " Nessa noite , um caso em particular me chamou a atenção : um menino de São Paulo, que contou assim o motivo da sua ligação :
- " Tenho uma namorada , estamos juntos há mais de 1 ano, e nos gostamos muito, só que tem um problema . Ela não quer transar comigo . Desde o começo do namoro que essa situação existe, e como ela não quer liberar ,faz um tempo que eu tô pegando o meu vizinho . Aí o irmão dela descobriu, e agora tá me pressionando para me pegar também só que ele quer ser ativo comigo, e isso não rola . "
Acostumada com muitas histórias complicadas , Penélope não conseguiu disfarçar sua opinião sobre o caso :
- E sua namorada , como ficou no meio disso tudo ?
É estranho o lugar que os sentimentos ocupam hoje no jogo das relações em nossa sociedade .O adolescente que sofria por amor está tão distante quanto os poemas de Castro Alves e Álvares de Azevedo pelos quais nossos tataravós suspiravam . Nada é mais antiquado do que mostrar seus sentimentos , afinal onde você pensa que está , no século XIX?
Minha memória da noite de sábado não me deixava pensar diferente . Pouco importam nomes , histórias , sentimentos verdadeiros. Todos estão ocupados demais em ser os melhores, em todo momento .Em apresentar o melhor seminário na faculdade , atingir as metas mais rápido na empresa,antes de todos . Tudo se dissolveu no mesmo ritmo alucinante do computador . Que me importa saber o nome das 14 meninas com que fiquei na última balada ,se meu amigo ficou com 27, na mesma noite ? Como pude ser tão mané ?
Muitas das nossas conquistas , como uma mulher ter o poder de terminar um casamento infeliz ou a liberdade para decidir por conta própria sua vida sexual são resultados da profunda reflexão que a sociedade fez de si mesma nas décadas de 1960/1970 . Jovens que saíram as ruas , questionando os dogmas de seus pais e avós , querendo saber " isso está realmente certo ? " A moral hipócrita em que tudo era permitido desde que fosse por debaixo dos panos foi superada por essas pessoas, que acreditavam na possibilidade de se construir um mundo mais autêntico e livre .
Dessa liberdade surgiu uma encruzilhada , na qual todos nós já estivemos um dia .
Todos nós somos , em maior ou menor grau, pequenas crianças ainda aprendendo a lidar com o próprio desejo . Dentro de cada um de nós existe um Peter Pan , que se recusou a crescer e guarda bem escondido aquilo que temos de mais precioso e intocado . Ele se mostra quando brincamos com as crianças no parque, nos divertindo tanto como se fosse um deles , ou quando algo tão simples como ficar em casa, comendo brigadeiro nos faz felizes .
Penso enquanto estou finalizando esta crônica se não estou sendo hipócrita por criticar tão duramente um mundo do qual, afinal de contas , eu faço parte . Essa dúvida me acompanhou desde o momento que tive a idéia , sem nem mesmo ter escrito uma única linha .Não há nada de moralista ou doutrinário aqui , nada mais longe .Essas são as reflexões de uma fria tarde de sábado , mas pelo feriado, com cara de domingo. Ainda tenho a segunda-feira livre . Em poucas palavras , eis tudo .
Todos querem pegar o bonde chamado desejo
Domingo à noite , sem muita coisa para fazer, estávamos eu e um amigo assistindo tv, ainda se recuperando da noitada de sábado . Passava na MTV o Ponto Pê, programa no qual a apresentadora Penélope tira dúvidas sobre sexo dos telespectdores, através do telefone . Sempre nos divertíamos muito, era engraçado saber das histórias, que como dizia minha avó , capazes "de fazer corar um frade de pedra " Nessa noite , um caso em particular me chamou a atenção : um menino de São Paulo, que contou assim o motivo da sua ligação :
- " Tenho uma namorada , estamos juntos há mais de 1 ano, e nos gostamos muito, só que tem um problema . Ela não quer transar comigo . Desde o começo do namoro que essa situação existe, e como ela não quer liberar ,faz um tempo que eu tô pegando o meu vizinho . Aí o irmão dela descobriu, e agora tá me pressionando para me pegar também só que ele quer ser ativo comigo, e isso não rola . "
Acostumada com muitas histórias complicadas , Penélope não conseguiu disfarçar sua opinião sobre o caso :
- E sua namorada , como ficou no meio disso tudo ?
É estranho o lugar que os sentimentos ocupam hoje no jogo das relações em nossa sociedade .O adolescente que sofria por amor está tão distante quanto os poemas de Castro Alves e Álvares de Azevedo pelos quais nossos tataravós suspiravam . Nada é mais antiquado do que mostrar seus sentimentos , afinal onde você pensa que está , no século XIX?
Minha memória da noite de sábado não me deixava pensar diferente . Pouco importam nomes , histórias , sentimentos verdadeiros. Todos estão ocupados demais em ser os melhores, em todo momento .Em apresentar o melhor seminário na faculdade , atingir as metas mais rápido na empresa,antes de todos . Tudo se dissolveu no mesmo ritmo alucinante do computador . Que me importa saber o nome das 14 meninas com que fiquei na última balada ,se meu amigo ficou com 27, na mesma noite ? Como pude ser tão mané ?
Muitas das nossas conquistas , como uma mulher ter o poder de terminar um casamento infeliz ou a liberdade para decidir por conta própria sua vida sexual são resultados da profunda reflexão que a sociedade fez de si mesma nas décadas de 1960/1970 . Jovens que saíram as ruas , questionando os dogmas de seus pais e avós , querendo saber " isso está realmente certo ? " A moral hipócrita em que tudo era permitido desde que fosse por debaixo dos panos foi superada por essas pessoas, que acreditavam na possibilidade de se construir um mundo mais autêntico e livre .
Dessa liberdade surgiu uma encruzilhada , na qual todos nós já estivemos um dia .
Todos nós somos , em maior ou menor grau, pequenas crianças ainda aprendendo a lidar com o próprio desejo . Dentro de cada um de nós existe um Peter Pan , que se recusou a crescer e guarda bem escondido aquilo que temos de mais precioso e intocado . Ele se mostra quando brincamos com as crianças no parque, nos divertindo tanto como se fosse um deles , ou quando algo tão simples como ficar em casa, comendo brigadeiro nos faz felizes .
Penso enquanto estou finalizando esta crônica se não estou sendo hipócrita por criticar tão duramente um mundo do qual, afinal de contas , eu faço parte . Essa dúvida me acompanhou desde o momento que tive a idéia , sem nem mesmo ter escrito uma única linha .Não há nada de moralista ou doutrinário aqui , nada mais longe .Essas são as reflexões de uma fria tarde de sábado , mas pelo feriado, com cara de domingo. Ainda tenho a segunda-feira livre . Em poucas palavras , eis tudo .
0 comentários:
Postar um comentário